Por Me. Gabriel Sarmento Eid – Economista
Um fantasma que há décadas foi exorcizado, a inflação está ressurgindo no mundo todo, em especial, aqui no nosso país tropical, com o nível médio dos salários tão baixos, pequenas variações nos preços daquilo que consumimos pesa muito no nosso orçamento.
Inflação é uma sensação, cada pessoa têm a sua, pois o peso que cada pessoa dá para cada uma das coisas que compra é diferente, assim como, os produtos e serviços que as pessoas compram são diferentes entre si, por isso que para cada pessoa o preço dos produtos e serviços têm um peso único no seu respectivo orçamento.
Os índices de inflação como IPCA e IGPM são cálculos estatísticos para tentar medir a inflação, mas, como toda estatística, elas medem apenas a média, no caso específico desses dois índices, a média da variação de preços de um grupo determinado produtos e serviços em todo Brasil, ou seja, é uma média muito grande, por isso, que ela quase nunca expressa aquilo que sentimos no nosso bolso.
Pior ainda, os índices de inflação não conseguem medir a inflação que não afeta o preço dos produtos, pois é, a inflação como eu disse é uma sensação de que o dinheiro não está sendo suficiente para chegar até o final do mês, o principal motivo é o preço das coisas que compramos, mas a inflação pode dar as caras de um outro jeito, bem sutil e terrível: a reduflação.
Reduflação é quando em vez de subir o preço de um produto, os fabricantes reduzem o tamanho da embalagem, o volume do produto ou a qualidade dele, dessa forma, não percebemos de imediato o problema, somente quando chega no final do mês aquele produto acaba antes do planejado que percebemos.
Quem faz compras há vários anos já deve ter percebido, o pacote de bolacha está menor, o chocolate está menor, o rolo de papel higiênico está mais curto! Em países da Europa essa prática é considerada abusiva e reprimida, mas por aqui, é uma estratégia desonesta para repassar custos ao consumidor sem alterar os preços dos produtos, como a maioria das pessoas prestam mais atenção ao preço do que ao volume ou tamanho e os índices de inflação medem apenas o preço dos produtos, você têm empresas e governo saindo beneficiados dessa estratégia, e o consumidor é que paga a conta no final.
Quando um produto que pesava 300g é vendido por R$10, passa para 270g e permanece com o mesmo preço, a média de preços não muda, mas para você consumidor, são 10% a menos de produto que você está recebendo em troca dos R$10, portanto, esse produto vai acabar antes do esperado e a sua sensação de inflação vai ser de absurdos 10%. Pior ainda, é quando temos uma redução de volume e um pequeno aumento de preços, pois o efeito fica dobrado.
Imagine que uma barra de chocolate era vendida por R$4 e pesava 90g, ela passa a ser vendida por R$4,40 e seu peso para 80g, isso representa uma inflação de quase 24%, tomando por base a meta de inflação anual do Banco Central de 4% ao ano, isso significa que esse exemplo está 6 vezes acima da meta, e não têm aumento da Taxa SELIC que resolva isso.
Por isso caro leitor, preço não é o maior vilão do seu orçamento, é a relação entre preço e o volume ou tamanho do produto, sempre que for comprar algo, faça a matemática básica, divida o preço do produto pelo volume total dele, daí compare com as alternativas, a que tiver o menor valor dessa divisão é o verdadeiramente mais barato.
- Se for um produto em quilogramas divida por 1000, se for em grama basta dividir pela quantidade de gramas;
- Se for em litros divida por 1000 para achar ele mililitros ;
- Se for em metros, como no papel higiênica, dívida pela metragem total do pacote, ou seja, a quantidade de rolos de papel vezes quantos metros cada rolo tem, e não se esqueça que o folha dupla não se compara com o folha simples;
- Se for por unidades, como no caso de papel toalha, divida pela quantidade de folhas.
E lembre-se, ninguém vai cuidar do seu orçamento, somente você consegue evitar ou reduzir o impacto da reduflação no seu orçamento, as empresas precisam dar lucro, os mercados ficam no meio do fogo cruzado, o governo não tá nem aí pra você, muito menos o sistema financeiro, portanto, apesar de ser chato pra caramba, você precisa se atentar a quanto você gasta, como você gasta e no quê você gasta, senão, a sua inflação vai continuar alta e o seu bolso vai continuar vazio, não importa o quanto o seu salário aumente.